quinta-feira, 5 de julho de 2012

FIM!

E pronto.... Termina assim o meu e-portfólio. Hoje é o último dia de entrega! Tenho cerca de 33 min. até à meia-noite (uma hora imprópria mas dentro do prazo!) sendo que vou usá-los para dar uma última vista de olhos! Espero que tenham gostado. Aproveito também para dizer que gostei imenso de construir este blog. Quem sabe não crie um meu! E, já agora, aproveito também para dizer que não foi escrito segundo as regras do novo acordo ortográfico em sinal de protesto! Tenho dito!


OBRIGADA.

Liliana Suspiro

sábado, 2 de junho de 2012

Apresentações 3

A colega Cristina apresentou-nos o seu trabalho intitulado "Por falar com imagens...". Uma óptima apresentação e, por falar em imagens, com umas imagens belíssimas! Adoro Magritte...
(Ver aqui a apresentação)




A colega Sílvia fez-nos a apresentação do seu trabalho com uma questão: Permitirá o registo vídeo o desenvolvimento de uma atitude reflexiva nos professores? Descubram a resposta aqui!




A colega Nazaré, por sua vez, apresentou-nos um tema bastante interessante: O Plágio no Ensino. Ficamos a saber de um estudo em que cerca de 70% dos alunos do ensino superior usam as "cábulas". Eu prefiro "auxiliares de memória" e são uma óptima ferramenta de estudo.
Apresentação aqui.



A colega Catarina fez a sua apresentação em torno do tema "A formação de professores com base no estudo de casos". Uma técnica eficaz que pode ser conhecida aqui.



O tema "Ciclo de vida profissional dos professores" foi-nos apresentado pela colega Rosária. Um tema bastante interessante sobre a teoria de Huberman (que já tinha referido anteriormente) que que podem ler aqui.



A colega Fátima apresentou-nos o seu tema "A narrativa na construção da identidade docente". Podem ver a apresentação aqui. Para nos facilitar ainda mais a vida a colega também disponibilizou um guião da apresentação que pode ser consultado aqui, e as histórias nos enviou para que pudéssemos escolher e comentar a nossa preferida. Poderão lê-las aqui.



E, por fim, como não podia deixar de ser, deixo-vos a minha apresentação acerca do "Cyberbullying" que, como já vos tinha referido, irá ser o tema da minha tese.Podem vê-la aqui.
Espero que gostem!


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Apresentações 2

A colega Madalena apresentou-nos o seu tema acerca da dinâmica do trabalho de grupo/pares. O objectivo? Reflectir sobre algumas das práticas de ensino–aprendizagem utilizadas em contexto de sala de aula. Bastante útil para quem quiser apostar nesta prática. Ver aqui a apresentação.



A colega Helena falou-nos acerca de "Construção de uma aula versus Reflexão sobre a mesma", tema da sua apresentação. A colega apresenta uma actividade praticada na aula e a posterior reflexão sobre a mesma. Ver a apresentação aqui.



A colega Rita apresentou-nos o trabalho intitulado "A importância das TIC na Supervisão Pedagógica". Um tema actual apresentado num programa actual também! Muito criativo. ver aqui a apresentação.


A colega Juraneide apresentou-nos um trabalho baseado na interessantíssima obra de Daniel Pennac, "Mágoas da Escola". Em Mágoas da Escola, Daniel Pennac aborda os problemas da escola e da educação desde um ponto de vista insólito - o ponto de vista do mau aluno. Pennac, que foi ele próprio um péssimo estudante, analisa a figura do cábula outorgando-lhe a nobreza que merece e restituindo-lhe a carga de angústia e dor que inevitavelmente o acompanha. Muito bom.
(ver aqui)

sábado, 19 de maio de 2012

Apresentações 1

Chegámos ao fim das aulas propriamente ditas e seguimos para a apresentação dos trabalhos. O trabalho consiste na escolha de um tema discutido na aula ou um texto e fazer uma breve apresentação sobre o mesmo. Bom, nem todas foram breves! O que por si só é bom.

Com a devida autorização darei a conhecer de seguida as apresentações.

A colega São Almeida apresentou-nos o seu tema: O Diário de Aula a deu-nos a conhecer as várias vantagens do uso desta estratégia assim como a origem, os objectivos, os pontos positivos, os pontos negativos e a interessante estratégia do semáforo. Para além disto, apresentou-nos também alguns exemplos conhecidos de diários como é o caso do conhecido diário de Sebastião da Gama. Muitíssimo interessante. Um óptima apresentação que passo a partilhar de seguida:

Diário de Aula

Para os interessados deixo aqui uma reportagem sobre Sebastião da Gama. Vale a pena ver e conhecer.

http://www.presenca.pt/editorial/diario-de-sebastiao-da-gama-na-rtp2/



A colega Rosana Duarte apresentou-nos um trabalho onde são abordados temas como a construção e desconstrução de casos de acordo com a Teoria da Flexibilidade Cognitiva (TFC) defendida por Rand Spiro, a Teoria da Flexibilidade Cognitiva e a Teoria da Flexibilidade Cognitiva como Modelo de Supervisão.  (ver aqui)
Muito boa apresentação, muito completa.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Focus Group

Devo dizer que, infelizmente, não pude assistir a esta aula. Fui posteriormente informada que integraram um focus group. Ora a minha contribuição nesse sentido é a partilha de um trabalho que fiz sobre o tema para a cadeira de Metodologia da Investigação em Educação. Aproveito para promover também o programa onde o fiz: PREZI. Foi-nos dado a conhecer por outro colega mestrando a quem agradeço. Muito bom e, de longe, mais atractivo que o power point. Cá vai o link onde o podem visualizar.

Espero que gostem!

sábado, 28 de abril de 2012

Capítulos da Vida

A nossa aula deste dia foi dedicada à apresentação dos episódios autobiográficos (ou incidentes críticos como já tinha falado anteriormente) testemunhados por nós, mestrandos, na 1ª pessoa. A professora seleccionou cinco incidentes: três enquanto alunos e dois enquanto professores. Passarei de seguida a citar e a comentar cada um deles:

Episódios Autobiográficos (enquanto aluna/o)


Episódio A - “… para serem homens e umas mulheres a sério!”

Decorria o ano de 1973 e eu estava na antiga 3ª classe. Naquele tempo os professores manejavam bem os castigos do corpo e da alma. A minha professora não era uma excepção na arte de bem manejar a régua. Sim, para mim aquilo também era uma arte. Parecia-me terrivelmente difícil que alguém conseguisse fazer com que aquele “enorme” instrumento acertasse num espaço tão pequeno como as mãozitas das crianças.
Por sorte, não tenho ideia de ter alguma vez experimentado o peso ou a dor que aquele horrível objecto parecia provocar. Tal não se deverá com certeza ao facto de ser uma aluna a quem nada de errado se pudesse apontar. Estou convencida que se consegui escapar a tal maldição, foi porque naquela altura era ainda mais franzina do que sou hoje, (se pesasse vinte quilos…) e os professores temiam que uma simples
reguada pudesse fazer cair por terra, de modo irremediável, todo o meu frágil ser! O certo é que me doíam também as reguadas que os meus colegas levavam naquelas mãozitas ainda tão pequenas. Depois das reguadas, vinha o sermão. Eu e os meus colegas não precisávamos de escutar o fim da frase para saber a conclusão do raspanete - “Tudo isto é para que vocês, amanhã sejam uns homens e umas mulheres a sério!”
Um belo dia, a professora pediu-me que fosse à sala ao lado, onde leccionava o marido, o professor Valdemar, dar-lhe um recado urgente. Lá fui eu, feliz da vida por ter sido seleccionada para desempenhar tão importante tarefa - naquele tempo era um privilégio fazer um favor a um professor!
O encanto daquela missão terminou no momento em que abri a porta da sala do professor Valdemar, depois de ter batido à referida porta e este me ter dado consentimento verbal para o fazer. O Agostinho, meu vizinho de rua e colega de brincadeira de fim de tarde, estava sentado no chão com a sua pequena mão a tapar o nariz de onde o sangue corria em bica. O professor Valdemar, que parecia ainda maior do que na
realidade era, envergava uma enorme cana na mão (objecto que eu nunca tinha visto na minha sala de aula) e em vez de socorrer o pobre Agostinho, que estava obviamente ferido, e a esvair-se em sangue, gritava sem parar com o pobre rapaz.
Não sei o final da história, porque saí a correr da escola, e só parei em casa a chorar convulsivamente abraçada à minha mãe. Nunca percebi o que teria feito de tão grave, ao ponto de merecer tão cruel castigo, o pequeno Agostinho. A minha mãe, para quem a autoridade da figura do professor era inquestionável, tentou explicar-me que alguma coisa de grave ele devia ter feito… O recado da minha professora para o seu marido poderia ser urgente e importante, mas confesso, que até hoje, nunca mais me consegui lembrar de qual era o seu conteúdo.
Aquele acontecimento marcou-me de tal modo, que passados muitos anos, já eu era adulta, quando fazia compras com o meu pai, vimos o professor Valdemar. O meu pai, velho amigo daquele senhor, queria que eu o fosse cumprimentar… recusei-me terminantemente... tinha ainda, e tenho, bem fresca na memória a imagem daquela cena...



Ora portanto, a primeira pergunta que me vem quase automaticamente à cabeça é "E se isto acontecesse nos dias de hoje?". Já estou a imaginar. Manchetes dos jornais: " PROFESSOR PRESO POR AGREDIR BRUTALMENTE UM ALUNO", ou "POPULAÇÃO QUER FAZER JUSTIÇA PELAS PRÓPRIAS MÃOS". O que os tempos mudam, hein? No entanto, a evolução nem sempre vem acompanhada de coisas boas. De facto, acabámos mesmo por dar uma volta de 360º e agora são os professores que são agredidos. É claro que não podemos ser extremistas. Acho, sinceramente, os castigos corporais aplicados na época dos meus pais, por exemplo, eram brutais e muitas vezes desumanos. Lembro-me que na minha escola havia uma professora que era a mais temida devido aos valentes estaladões que ela dava. Uma vizinha minha que era aluna dela tinha uma daquelas bandeletes com picos para prender o cabelo e a professora ao dar-lhe um murro na cabeça (sim, um murro), os picos trespassaram a pele fazendo com que o sangue escorresse pelo pescoço abaixo. Mas lembro-me também que a professora não saiu impune pois teve imensos problemas com isso e acabou por se reformar (para alegria de todas as crianças). Se fosse uns anos antes, de certeza que sairia impune e, tal como no episódio descrito pela colega, não me admirava que ainda fosse castigada pelos pais de seguida com o argumento de que "alguma coisa de grave havia de ter feito". Enfim, costuma-se dizer "nem tanto ao mar, nem tanto à terra". O ideal seria termos alunos bem comportados sem necessidade de recorrer aos castigos (nem falo nos corporais pois isso já não existe!). Vai ser sempre um sonho...






Episódio B - “Orfeão da Tabuada”

A primeira classe foi atribulada e bastante complexa. Recusei lá ficar por vários dias consecutivos, pois jamais pensaria que a minha mãe não iria ficar na escola comigo. Depois de me habituar, correu tudo como o previsto. Adorei! Mas depois, tive que mudar de escola, pois os meus pais decidiram mudar de casa e ir viver para uma vila mais recatada. Novos amigos, nova escola, novos desafios!
Decorria o ano de 1985, ou quem sabe, já o ano de 1986. Não consigo precisar o dia, o mês, da mesma forma como consigo precisar toda a situação que irei retratar neste episódio autobiográfico.
Na minha sala a Professora Maria de Lurdes dava aulas à segunda e terceira classe, simultaneamente.
Confesso que quando entrei na escola, como era nova lá os meninos mais velhos alertaram-me para a existência da verdinha e para que tivesse cuidado com ela. Ora com sete anos digamos que a minha astúcia não era um dos meus pontos fortes e jamais me dei conta do que estavam a dizer, ou sequer percebi. Viria a perceber mais tarde da pior forma possível! No início tudo correu bem, adorava a professora, as brincadeiras que ensinava e até os penteados que me fazia, apesar do meu cabelo rebelde não permitir muita imaginação. Tudo era idílico, até ao dia...
Numa das muitas aulas em que a professora optou por dar matemática, as coisas não correram da melhor forma possível. Enquanto os meninos da segunda classe faziam uma ficha, a professora começou a fazer perguntas aos restantes meninos da terceira classe acerca do que era o dobro e do que era a metade. Para espanto da Senhora Professora nenhum menino respondeu. E quanto mais perguntava mais silêncio obtinha. O tom de voz alterou-se e aos poucos a sua fúria começou a aparecer. Mas nem isso fez com que os alunos respondessem. Como ficou furiosa decidiu questionar as crianças da segunda classe, onde eu me inseria, sem se lembrar que tal tema ainda não havia sido aprofundado, se é que já tinha sido dado. Ainda hoje me questiono se já tinha sido dado ou não! Também não tive hipótese de me questionar, pois alguém o fez por
mim! Ora a pergunta “alguém sabe o que é o dobro ou a metade?” , foi feita para a turma inteira. O silêncio foi a resposta. Talvez não por não sabermos, mas porque o medo se havia instalado, falo por mim, claro.
Foi então que tive o desprazer de conhecer a tão afamada verdinha. Correu um a um, e por cada pergunta sem resposta, uma reguada era o presente envenenado. Como me doeu, como chorei!
Hoje que penso nisso, ainda me dói. Talvez não por dor, mas porque me desiludiram num lugar que tanto amava, que tanto me fazia feliz. Quando os meus pais me foram buscar contei-lhes logo o sucedido, eles falaram com a professora e, como antigamente quem tinha razão era quem ensinava, fosse de que maneira fosse, acabei por perder a razão. Afinal de contas tinham sido apenas reguadas, nada demais, como afirmava o meu pai.
Nos dias que se seguiram comecei a recusar a ir à escola e até a inventar algumas doenças próprias das crianças que não querem ir à escola. Quando finalmente fui descoberta, voltei à escola, mas nada foi como antes! As brincadeiras deixaram de ter graça e no meu cabelo nunca mais a Senhora Professora mexeu.
Ainda hoje me magoa falar deste assunto, pois nunca percebi porque é que tivémos que ser repreendidos por algo que nem sequer sabíamos, por não termos sido ensinados. Fomos aquilo a que na gíria se apelida por saco de pancada, duma senhora que se dava como professora e que por um mau momento ia acabando como todo o meu amor pela escola.
Felizmente encontrei pela frente professores que me fizeram voltar a amar a escola como sempre amei, apesar de nunca me ter esquecido daquele terrível dia.





Bom, mais um episódio de violência! Uma coisa é certa: parece que nos marca mesmo para a vida. Digo isto porque a única vez que a minha professora me bateu (ela lá tinha os seus "sacos de pancada" preferidos e eu não era um deles) ficou-me marcado na memória para sempre! Estava eu a fazer o U e não conseguia fazer a "perninha" da letra como ela queria. Claro que quando temos uma pessoa aos berros por cima de nós a concentração não abunda! Até que sinto um valente pancadão na nuca. A professora tinha-me batido! Foi a única vez, mas parece que ainda hoje o sinto!



Episódio C - “não saía nada…”

A minha escola primária (…) era constituída por quatro salas, casas de banho e o gabinete da Diretora. O período lectivo preenchia apenas a manhã ou a tarde, e, por isso não havia refeitório. Formava um U, havendo na sua concavidade um pequeno jardim e uma escadaria, ao longo de todo o comprimento da escola, que dava acesso às salas de aula. O espaço de recreio constava de um grande alpendre em frente às salas e virado para o jardim. A escola encontrava-se junto a um grande cafezal, que ora se vestia de um verde profundo, ora floria e de branco se vestia, libertando um aroma quente intenso adocicado, ora se enfeitava com as suas bagas vermelhas. O exame da 4ªclasse era um acontecimento! Dentro de cada sala, lotada de alunos, sobressaíam as fileiras de batas brancas, contrastando com as muitas cores, feitas da pele de cada um. Reinava um clima de ansiedade resultante do somatório dos medos. A professora, de cana na mão, ia auscultando as sabedorias, num desfiar sem fim, de rios de Portugal continental (metrópole na altura), das capitais de cada distrito e províncias, das serras, planaltos e litorais e interiores, de reis e rainhas, de guerras ou batalhas, e de números e contas, de subtrair, somar (mais subtrair, que somar, das entranhas de cada um), de dividir e multiplicar, multiplicando-se as “canadas”… No meio deste turbilhão estava eu como espectadora e muito na expectativa que a professora continuasse a esquecer-se da minha presença.
Grande equívoco! A professora ouviu os meus pensamentos! E de repente, saltam, em catadupa, perguntas na minha direcção: “Onde nasce o rio Mondego? Qual a principal cidade que atravessa?” Ai…, apelei, implorei à minha memória, mas não saía…não saía nada. Ouvi uma voz de trovão: “Também tu não sabes nada?” Uma onda de sofrimento varreu a minha mente. O Mondego fica lá tão longe, a milhares de quilómetros! De cabeça baixa e num sufoco, de segundos que pareciam uma eternidade, senti-me esmagada. Não era um sentimento bom de se sentir. Olhando pelo canto do olho, vi os meus colegas paralisados e incrédulos, como seria possível, eu não saber tal assunto? Como se iria resolver a situação? Claro à maneira da altura, um bom coque no cocuruto! A partir deste momento a professora não me deu tréguas. Entrei na roda viva e tudo se resolveu a tempo e de outros tempos estamos a falar!


Hum... E mais um episódio de relato do medo e do pânico que as professoras antigamente faziam sentir. Vejo aqui um padrão nestes episódios! Mas é verdade... Hoje as crianças mal querem acreditar que isto acontecia. É quase como um conto infantil de terror! Levar com "canadas" na cabeça parece quase surreal! Ai mas bem me lembro quando tinha de ir para a frente de um mapa e identificar todos os principais rios em portugal! Que horror! Que pânico! As pernas tremiam, a voz gaguejava... Aaaaaahhhh bons velhos tempos (ou então não).



Episódios Autobiográfico(s) (enquanto professor)




Episódio A

Um edifício grande, muito grande, demasiado grande, é a escola onde se passou a “estória” que vou narrar. A escola foi recentemente remodelada e é constituída por três blocos, cada um com três pisos e, algum espaço envolvente. O bloco A, os corredores são longos, com o fim a perder de vista, amplos e luminosos, de paredes brancas. Duas fileiras de salas de aula ladeiam-no. Quando entramos nas salas de aulas
verificamos o contraste com o corredor. São pequenas! Ao projectarmos o olhar para além das janelas vemos os campos de jogos e os outros blocos da escola. Ao descer o olhar vemos demasiadas mesas e cadeiras, para tão pouco espaço. À frente a secretária do professor com um computador e na parede um quadro branco. Já não há quadro negro nem estrado. Isso são coisas do passado. Porque estes espaços foram projectados para uma nova filosofia educativa! Era pressuposto uma nova postura no processo de ensino-aprendizagem: o protagonismo passava do professor para o aluno. Este, seria tratado como um ser único, com as suas especificidades e, as salas seriam para momentos de encontro professor-aluno em sessões de pequenos grupos. Mas puro engano! Não passaram de intensões, apenas mera cosmética, porque para além da forma dos espaços físicos, tudo continua na mesma! É nesta escola que os alunos se preparam para o futuro e, ensino superior?! Pelo menos, é o que se espera.
Quando soa o toque de entrada, a sala enche-se num mar de gente. Transforma-se num amontoado de mochilas, alunos empacotados, com pouco espaço de liberdade.Ultrapassando-se o bulício inicial, com as hostes acalmadas, começo a aula, fazendo a ponte com a aula anterior. Para consolidar matérias, solicito aos alunos para resolverem uma ficha de trabalho aos pares (porque o espaço não permite outra coisa), constituída por um pequeno texto e algumas questões associadas. Enquanto os alunos se embrenham no trabalho, vou circulando pela sala com dificuldade. Mas, mesmo assim, lá vou andando ao longo das mesas, com muitos cuidados para não tropeçar em alguma alça de mochila menos arrumada. Tento acompanhar o trabalho mais de perto. Não é fácil. Lá ao fundo da sala está João, um aluno que tem uma postura hirta com o braço esticado, parecendo uma extensão robótica com uma mão que pousa autonomamente, com vontade própria e que desenha, desenha desenhos de traços redondos, múltiplos e paralelos, lembrando tatuagens! Sempre que me aproximo de João há um sobrepor de folhas e o olhar do aluno agiganta-se por detrás dos óculos, e, num enrugar de testa parece dizer: “ é vida, não consigo fazer o contrário”. Esta atitude tem vindo a ser um hábito. Mas é desconcertante porque sempre que peço ao aluno para responder aos exercícios propostos, João é certeiro, chega à resposta rapidamente. O mesmo já não acontece com muitos dos seus colegas. Mas o que se passa com aquele aluno? Há qualquer coisa que sai fora da norma e do meu controlo e eu, não consigo explicar. (…) Nitidamente o aluno precisa de uma forma de estar diferente dos outros para se concentrar. Sim, porque aquela ausência é aparente! Há outras reacções do aluno que me fazem pensar: quando há situações de humor em que todos riem, João fica indiferente e, também já percebi que quando se faz um discurso menos linear e mais metafórico, o aluno mostra um semblante de estranheza. Porém, nos conselhos de turma iniciais, nada foi dito sobre este aluno. Começo a ter dúvidas de como lidar com a situação, enfrentá-la, sendo mais inflexível ou ser flexível, sem cair no pântano da flexibilidade, tornando-me mais permissiva ao seu comportamento? Tenho reflectido sobre a situação e, estou perante a dúvida de como agir efectivamente.
Em diálogo com outros professores da turma verifiquei que alguns já tinham percepcionado o mesmo tipo de comportamento. Transmiti a minha preocupação à directora de turma que de imediato tentou apurar se havia algum elemento revelador no processo do aluno. E, encontrou! Este aluno teve um acompanhamento especial no ciclo anterior por lhe ser diagnosticado síndrome de Asperger. Mas, no processo também constava a alta desse tratamento diferenciado na escola. A directora de turma referiu que, auscultando os encarregados de educação, estes pretendiam que o seu educando ao entrar no novo ciclo deixasse de ter o rótulo “diferente”, dado que a situação estava mais ou menos controlada. Bem, pelo menos a explicação para a postura do aluno na aula já a tenho! Resta-me saber como lidar com a situação: deixar que o aluno continue com a sua forma de estar? Ou, levar ao aluno que tenha um comportamento igual ao dos outros?
Se optar pela primeira solução, vou ter problemas com os outros alunos da turma, possivelmente, começariam a “fazer férias” nas aulas, se o colega pode e não é incomodado pela professora, porque não fazer o mesmo? Se optar pela segunda solução, temo violar uma postura que é característica do indivíduo, sendo esta que lhe permite avançar.
Num segundo conselho de turma foi-nos dito pela professora do ensino especializado, que, nestas situações o professor deverá levar o aluno a enquadrar-se dentro das normas e hábitos dos demais alunos, dado que alunos com estes problemas têm a tendência a criar as suas próprias rotinas e a fugirem dos contextos reais, dado que estes estão constantemente a trazer novidade.




O Einstein era um génio do que dizia respeito às disciplinas que envolviam matemática, mas está documentado que era um zero às outras! Era desinteressado nas aulas o que o levou mesmo à presença do director para levar um "raspanete". Mal o director sabia que viria a ser um dos maiores génios que a humanidade já conheceu. Por isso mesmo não devemos subestimar uma criança pelo mau comportamento. Quem sabe não é um pequeno génio? E pelo que foi descrito neste episódio parece-me que a aparente distracção nas aulas não o impedia que de alguma forma absorvesse a matéria. Existem alunos com peculiaridades especiais que os fazem imediatamente sobressair. lembro-me de um aluno, de etnia cigana, que tive no meu estágio. Como ele me tirava do sério, meu deus! Um dia que ele faltava era um dia de descanso para todos! Sempre irrequieto, não fazia nada do que pedíamos, mas de vez em quando lá tinha aqueles momentos únicos de concentração e resolvia tudo com uma facilidade tal que parecia que até o aborrecia ser tão fácil! Enfim, um verdadeiro caso de uma criança naturalmente inteligente mas sem vontade ou apoio familiar para tirar proveito disso.



Episódio B

Quando o João entrou para a escola onde trabalho, mostrou desde cedo gostar de ser o centro das atenções e o líder. O que antes parecia uma personalidade forte, rapidamente mostrou ser algo mais preocupante. Desde a desobediência, à inquietude, passando pelas inúmeras divergências com os pares e os adultos da sala, o João foi demonstrando que seria um desafio difícil. Apesar de ser dócil, prestável, interessado nas actividades e preocupado com o próximo, o seu lado negativo tende a prevalecer. Às vezes parece que é mais forte que a sua própria vontade. Mas como cada criança é uma criança, tentei não valorizar muito determinadas atitudes, chamando sempre para junto de mim, conversando, fazendo ver, mas por vezes repreendendo quando achei que já tinha excedido os limites do que considerava aceitável/perdoável. Este ano lectivo, em Dezembro, o João teve uma atitude extremamente complicada de gerir.
Depois de um dia inteiro agitado e sempre a testar os adultos da sala, quando regressava do refeitório após o lanche, bateu num amigo e empurrou-o contra a parede. O amigo fartou-se de chorar, eu pedi-lhe que pedisse desculpa pelo que tinha feito, mas ele simplesmente recusou. Mandei-o sentar até que pedisse desculpa. Ora em vez de acalmar só se revoltou ainda mais contra mim. Para além de me insultar verbalmente de uma forma grotesca, ainda me tentou agredir. Como não deixei que o fizesse, afastando-me dele, deu um pontapé na mesa, levantando-a do chão. Fiquei completamente estarrecida com tal atitude. Mandei todos os amigos para a rua e fiquei sozinha na sala com ele. Perguntei-lhe o porquê, o que queria provar com aquilo e porque é que me queria bater. Não respondeu, então decidi esperar em conjunto com ele pelo responsável. Quando o responsável chegou, transmiti o que havia acontecido. E apesar de saber que já assisti a tantos episódios de maus comportamentos com a família, o responsável disse-me que não entendia, pois ele só se comportava assim na escola. Que ele em casa era muito meiguinho e calmo. Tentei relembrar algumas situações que assisti, de forma a dar a entender que sabia que ele em casa era igual e que devíamos trabalhar em conjunto a fim de perceber e tentar ajudar o João a controlar as suas atitudes. Não obtive qualquer resposta e demonstração de interesse.
Não é fácil lidar com crianças ditas dificeis, mas mais difícil que isso só mesmo uma família que tenta iludir-se de que tudo está bem e é normal da idade, colocando assim entraves no desenvolvimento harmonioso das crianças.




Custa-me imenso a acreditar que uma criança possa ter duas atitudes completamente diferentes em casa e na escola. por vezes é mesmo isso, os pais "tapam" os olhos a determinados comportamentos das crianças rotulando-os como "normais" para a idade. E nem se apercebem do valente erro que estão a cometer em alguns casos. uma criança é uma criança. Podemos de alguma forma desculpar o mau comportamento pelo facto de ser mesmo isso, uma criança, mas é importante incutir o respeito pelo próximo. O que acontece muitas vezes e infelizmente, é que os pais apostam demasiado nos professores para incutir o sentido da disciplina. Mas esse não é um trabalho unicamente exclusivo dos professores. É algo que tem de ser trabalhado pelos responsáveis da educação da criança. E a falta de educação com que os professores se deparam todos os dias são fruto e consequência da falta de disciplina que têm em casa. Será justo? Claro que não. Não quero ter um discurso generalista mas infelizmente são casos que acontecem vezes de mais hoje em dia.

sábado, 14 de abril de 2012

Oh captain, my captain...

Nesta aula foi abordado o seguinte tema:

. As narrativas;

A narrativa é, segundo Bruner (1990, p. 51-52), uma "história que descreve uma sequência de acções e experiências de personagens, reais ou imaginárias. As personagens são representadas em situações que mudam... (e às) quais elas reagem. Tais mudanças revelam aspectos escondidos das situações e das personagens, dando origem a uma nova situação que exige pensamento e/ou acção. A resposta a esta situação leva a história à sua conclusão."

Como pode a construção de narrativas auxiliar no desenvolvimento pessoal e profissional dos professores?

Os professores, quando contam histórias sobre algum acontecimento do seu percurso profissional, fazem algo mais do que registar esse acontecimento; acabam por alterar formas de pensar e de agir, sentir motivação para modificar as suas práticas e manter uma atitude crítica e reflexiva sobre o seu desempenho profissional. Através da construção de narrativas os professores reconstroem as suas próprias experiências de ensino e aprendizagem e os seus percursos de formação.Desta forma, explicitam os conhecimentos pedagógicos construídos através das suas experiências, permitindo a sua análise, discussão e eventual reformulação. A redacção de relatos sobre as suas experiências pedagógicas constitui, por si só, um forte processo de desenvolvimento pessoal e profissional ao desencadear, entre outros aspectos: a) o questionamento das suas competências e das suas acções; b) a tomada de consciência do que sabem e do que necessitam de aprender; c) o desejo de mudança; e d) o estabelecimento de compromissos e a definição de metas a atingir. (texto completo)

Este tema faz-me lembrar a primeira história que li. Estava na 4ª classe foram à escola umas senhoras com uma daquelas carrinhas-bibliotecas ambulantes e pudemos escolher um livro. Eu escolhi "A fada Oriana" da Sophia de Mello Breyner Andersen. Nunca tinha lido um livro "a sério" e aquele levou-me a "devorá-lo" em dois dias. Penso que foi aí que nasceu o meu gosto por literatura. Quando acabei, e sedenta por mais, fui aos livros da minha mãe dos tempos de estudante. E foi assim que, ainda não tinha feito 15 anos, e já tinha lido o "Guerra e Paz" do Tolstoi. Infelizmente, acabei eu também por ser uma "vítima" das novas tecnologias e fui perdendo um pouco o hábito de ler.

O que eu pretendo dizer com isto é que as narrativas ou histórias, quer sejam usadas como ferramentas para  a reflexão dos professores ou como instrumento de leitura são de uma relevância enorme. Foi graças à "fada Oriana" que me interessei pela leitura.

O meu orientador de estágio  no último ano pedia-nos para, no final de cada dia de estágio, escrevermos uma narrativa ou uma reflexão acerca dos acontecimentos. O certo é que aquilo era uma "seca" para mim mas devo dar a mão à palmatória porque hoje mesmo peguei nesses textos e dou por mim a corrigir-me a mim própria! "Mas porque é que eu optei por esta abordagem e não por aquela que é melhor?" Em alguns nota-se a frustração de uma aula que correu mal e noutros a felicidade de uma aula que correu bem. Enfim, é como olhar para toda uma história do principio ao fim, com os devidos personagens, os altos e os baixos de um percurso. E isso faz-nos aprender. Que melhor personagem que nós próprios para isso?

Lembro-me que nesta aula foi referido um filme, outro que está no meu TOP 10: "Dead Poets Society" ou, em português, O Clube dos Poetas Mortos. Lindíssimo. Lembro-me de o ter em VHS e vê-lo cerca de 756.664.640 vezes. Pronto, talvez esteja a exagerar. Mas vi muitas vezes, sem dúvida. E perguntam vocês "ah e tal o que é que isso tem a ver com as narrativas?". TUDO. Na minha fase de poeta (sim, é verdade) todas os meus sentimentos de tristeza, alegria, frustração, amor, ódio, etc, eram passados para poemas. Quantos e quantos poetas não escreveram o seu percurso de vida através da poesia? Há lá melhor escrita para nos tocar? Oh meu Fernando Pessoa tantos sentimentos passaste tu para o papel! E obrigada por isso!



Bom, de qualquer forma deixo aqui a cena que, na minha opinião, é a melhor do filme, mesmo desafiando qualquer um a afirmar que ainda não viu.








Fenomenal.


sábado, 31 de março de 2012

Era uma vez uma nêspera...

A aula consistiu na discussão dos seguintes temas:

. A importância de trabalhar e investir para progredir;
. Histórias infantis;
. A importância do portfólio.

Foi apresentado um poema na aula que passo a citar:



"Uma nêspera
Estava na cama
Deitada
Muito calada
A ver
O que acontecia
Chegou uma Velha
E disse
Olha uma nêspera
E zás comeu-a
É o que acontece
Às nêsperas
Que ficam deitadas
Caladas
A esperar
O que acontece”

(Mário Henrique Leiria)


O que é que nos transmite este poema? Como podemos usá-lo para passar uma mensagem às crianças? Ora bem, a nêspera estava na cama, deitada, muito calada a ver o que acontecia. Chegou uma velha e comeu-a. eu, como adulta, pergunto: mas o que raio faz uma nêspera numa cama? Calada? Desde quando as nêsperas começaram a falar? Para não falar que uma nêspera não pode esperar muita da vida. Ou é comida ou apodrece. Não são boas perspectivas. Ainda bem que não nasci nêspera.

Agora fora de sarcasmos, este é um poema que pode transmitir uma importante mensagem às crianças. E podem interpretá-lo de uma forma muitos mais construtivista que a minha! De facto, temos de lutar e trabalhar para chegarmos a algum lado. Não podemos ficar "deitados" à espera que as coisas aconteçam. Esta é a mensagem a passar. E esta é uma poderosa arma para levarmos as crianças a interiorizar os fundamentos da vida. Aqueles que, livres de qualquer tendência política, pessoal ou religiosa (porque penso que esse é um caminho a ser escolhido e não incutido) são os que nos movem neste mundo de percalços e nos tornam mais fortes.

As histórias infantis, cheias de fantasia e tão apelativas à imaginação, trazem consigo uma mensagem não directa mas que leva as crianças a reflectir sobre ela. E que histórias deliciosas se vêem hoje em dia! A literatura infantil contemporânea tem histórias e ilustrações fascinantes! Quem diria que um dia fizessem uma história chamada "OH JOÃO! FOSTE TU, PORCALHÃO?" Ai que escândalo iria ser há uns bons anos atrás... Reparem na capa:




Hilariante, não?! Ora então, a história é sobre um menino que, de vez em quando, dá o "ar" da sua graça e solta uns valentes "puns".





E qual é a mensagem passada, perguntam vocês?






Pouco ortodoxo para alguns, genial para mim! Porquê fazer tabu de um acto da natureza? Todos espirramos e, no entanto, ninguém sente vergonha disso (tirando quando é a minha irmã cujos decibéis do seu potente espirro equivalem aos de um trovão).



No entanto, existem outros exemplos que me deixam... digamos... perplexa:





"Narra-se, neste álbum vocacionado para primeiros leitores, a história/aventura de um pequeno panda chamado Coco, que tem um estranho desejo: apanhar um açoite. Recriando algumas das características do universo infantil – como a tendência para a imitação ou a curiosidade –, este conto de animais possui um enredo simples e é marcado pelo cómico de situação. Com um texto verbal relativamente reduzido e uma componente visual muito cuidada e pormenorizada, este é um volume muito apelativo."

Sim, sem dúvida, bastante apelativo!

 

Mais sobre este tema aqui



Passando agora ao tema dos portfólios devo dizer que esta foi a minha forma de fazer o portfólio da aula, como, aliás, já o tinha explicado na apresentação do blog. Trata-se, por isso, de um e-portfólio.

“Portfolios como documentos personalizados do percurso de aprendizagem, são logicamente ricos e contextualizados. Contêm documentação organizada com propósito específico que claramente demonstra conhecimentos, capacidades, disposições e desempenhos específicos alcançados durante um período de tempo. Os Portfolios representam ligações estabelecidas entre acções e crenças, pensamento e acção, provas e critérios. São um meio de reflexão que possibilita a construção de sentido, torna o processo de aprendizagem transparente e a aprendizagem visível, cristaliza perspectivas e antecipa direcções futuras” (Jones & Shelton, 2006, p.18).

O portfolio electrónico, também conhecido como e-portfolio, ou portfolio digital, é um conjunto de provas electrónicas (ferramentas, incluindo processamento de texto, ficheiros electrónicos como o Word e ficheiros PDF, imagens, multimédia, blogs e links Web etc.) colocado e gerido por um utilizador, usualmente online. Os e-portfolios permitem ao utilizador demonstrar as suas capacidades e também expressar as suas opiniões e questões pessoais, e, se o utilizador estiver on-line ele pode manter uma dinâmica permanente, gerindo o seu e-portfolio da forma mais adequada e conveniente. Algumas aplicações dos e-portfolios permitem vários graus de acesso, por isso o mesmo portfolio pode ser utilizado para diferentes situações, ou propósitos.

Lembro-me que para uma cadeira da licenciatura foi pedido um portfólio com materiais, reflexões, enfim, tudo o que se pede para um portfólio. Todos nos preocupámos mais com a estética do portfólio do que propriamente com o seu conteúdo. Devo mencionar que o meu foi forrado com tecido felpudo. Mas o mais importante é mesmo o conteúdo.

Segundo Sá Chaves (2005), o portfólio reflexivo é, sobretudo, uma estratégia na qual a avaliação formativa continuada e personalizada garante o refazer das aprendizagens e potencia a sua qualidade final percebida como produto. Na fase final de cada percurso formativo o portfolio, enquanto narrativa, mais ou menos longa, conta uma história de aprendizagem, pessoal e sempre única, que pode ser lida e, consequentemente avaliada, tendo como referência os objectivos e os conteúdos inscritos, desde o início, no respectivo programa de formação.

Como vantagens temos:

• promover o pensamento reflexivo

• explorar e consolidar conhecimentos, aprendizagens e

experiências

• criar algo útil, criativo, prático

• fundamentar processos reflexão para, na e sobre a

acção/aprend. pessoal, profissional

• estimular originalidade e criatividade

• garantir mecanismos aprofundamento conceptual

Para saber mais acerca deste tema podem consultar aqui.





Bibliografia recomendada:


Sá-Chaves. I. (1998). Porta-fólios: No Fluir das Concepções, das Metodologias e dos

Instrumentos, Porto Editora, Porto.


Sá-Chaves, I. (2005). Os “Portfólios” reflexivos trazem gente dentro. Porto: Porto Editora.

sábado, 24 de março de 2012

Construir o Conhecimento

A aula deste dia dividiu-se nos seguintes temas:

. Paradigma construtivista;
. Aprendizagem colaborativa;
. A Escola da Ponte;


A abordagem construtivista foi algo que me despertou a atenção desde os primeiros dias de estágio. Uma das críticas feitas à minha actuação perante os alunos era de que era demasiado "tradicional". "Demasiado tradicional?", questionei. Sim, demasiado tradicional. Eu explicava, os alunos aprendiam. Eu perguntava, os alunos respondiam. E se eu os levasse a descobrir, a construir o próprio conhecimento? Optei então por mudar a abordagem. Em vez de expor os problemas para chegarem à resposta, dei primeiro a resposta para construírem o problema. Ou em vez de responderem a perguntas de um texto, construírem a pergunta a uma resposta. E não é que foi uma agradável surpresa? Talvez esteja a minimizar o método do construtivismo mas, vá lá, a minha experiência também ela é mínima! Mas para mim foi uma grande revelação.


Por reacção ao positivismo herdado do século XIX e na sequência dos trabalhos de Jean Piaget, o construtivismo coloca-se como uma nova alternativa face à complexidade do mundo actual e sobretudo face aos problemas epistemológicos gerados pelo desenvolvimento das ciências ditas exactas. Para o construtivismo, a realidade constrói-se a cada instante – o caminho faz-se caminhando, como dizia António Machado – e não precede o acto da observação. É a pretensão de um novo saber e de um novo conhecimento que arranca a um real imanente e ontológico uma parcela de verdade.
Nesta obra estão reunidos os textos fundamentais que dizem respeito à nossa vida quotidiana. Neste volume estão propostas as bases conceptuais que sendo reconsideradas e reformuladas devem ser «provadas», pragmaticamente, nos variadíssimos campos que a actividade humana disciplina pelos seus projectos de conhecimento.
Esta é a sinopse do livro de Jean Louis Le Moigne intitulado "O Construtivisto". Existem dois volumes publicados. Nunca li, mas espero vir a ler pois parecem-me bastante interessantes.

Deixo-vos também um artigo publicado pelo professor Álvaro Leitão, claramente apologista da abordagem construtivista, que foi meu orientador de estágio e que em muito agradeço por me ter ajudado a ser menos "tradicional". (ver aqui)

Ora e não se pode falar em construtivismo sem falarmos (outra vez) daquele que é considerado por muitos como o pai desta teoria: Jean Piaget. O curioso é que Piaget nunca se assumiu como pedagogo. Definiu-se sempre como um investigador dos processos da inteligência. 

Piaget demonstrou que a criança raciocina segundo estruturas lógicas próprias que evoluem conforme faixas etárias definidas e são diferentes da lógica madura do adulto. Por exemplo: se uma criança de 4 ou 5 anos conclui que um copo estreito tem mais água relativamente a outro mais largo, não se trata de um erro, como se julgava antes de Piaget, mas de um raciocínio apropriado a essa faixa etária. O construtivismo procura desenvolver práticas pedagógicas sob medida para cada degrau de amadurecimento intelectual da criança. Os estádios (ou estágios) definidos por Piaget "dividem" a capacidade intelectual da criança por fases, como já foram referidos atrás.

O construtivismo procura formar pessoas de espírito inquisitivo, participativo e cooperativo, com mais desembaraço na elaboração do próprio conhecimento. Além disso, o construtivismo cria condições para um contacto mais intenso e prazeroso com o universo da leitura e da escrita. 
Em vez de se dar a matéria, numa aula meramente expositiva, a professora organiza o trabalho didático-pedagógico de modo a que o aluno seja o co-piloto de sua própria aprendizagem. A professora fica na posição de mediadora ou facilitadora desse processo.


É claro que a abordagem tem as suas críticas. Mas não deixa de ser fascinante. Piaget foi um revolucionário neste sentido. 

A aprendizagem colaborativa é um recurso na área de educação que consiste em estabelecer um procedimento onde o aluno, ou usuário, em conjunto com o professor, estabeleçam buscas, compreensão e interpretação da informação de determinados assuntos. A aprendizagem colaborativa surge da necessidade de inserir metodologias interativas na educação.


Em Portugal temos um óptimo exemplo da aplicação do método construtivista e da aprendizagem colaborativa na educação. Trata-se da Escola da Ponte. Neste caso, pode suscitar um certo sentimento de cepticismo. Veremos uma apresentação dessa escola.





De realçar que foi a 1ª escola do MUNDO a ter contrato de autonomia. Vanguardista, não? Ao ver o vídeo tento "chutar" o cepticismo para o lado quando este se tenta apoderar de mim. Considerando-me uma pessoa bastante liberal e bastante adepta de teorias radicais invade-me uma sombra conservadora que não me agrada nada. Mas que não consigo evitar. No entanto, dou os meus parabéns à iniciativa. E tendo em conta que, apesar de tudo, o sucesso é visível, então tento abafar o meu pouco conservadorismo que se manifesta. Recuso-me a falar de algo só baseado numa reportagem. Gostaria muito de um dia conhecer mais profundamente os métodos e a escola a fim de combater o cepticismo. Algo me diz que se o fizesse, com certeza de dissiparia.



Bibliografia recomendada:

LE MOIGNE, Jean-Louis (1999). O construtivismo: Volume I: dos fundamentos. Lisboa: Instituto Piaget.

sábado, 17 de março de 2012

If We Only Knew, If He Only Told Us

Esta aula foi dedicada na totalidade ao tema do Cyberbllying. Eis os sub-temas principais:

. Os novos media;
. Cyberbullying/Cybertraining;
. Construção da identidade;
. Nativos digitais/Imigrantes digitais.


Conhecem a sensação de quando sabem que determinada coisa existe, até sabem o que é e no que consiste mas.... nunca prestaram a devida atenção? Bom, aconteceu comigo nesta aula em relação ao cyberbullying. A aula interessou-me imenso. Cheguei a casa neste dia e corri para o portátil a fim de fazer alguma pesquisa sobre o tema. E o que encontrei chocou-me imensamente. Basta ir, por exemplo, ao youtube e aí encontrei imensos testemunhos reais de vítimas de cyberbullying. Algumas das história infelizmente contadas por familiares mais próximos porque a verdadeira vítima já não estava entre nós para contar... porque, infelizmente, a dor foi mais forte que a vontade de viver. Lembro-me de perguntar a mim própria "Como pude ser tão indiferente a este problema? Como é que um problema destes, que tem na tecnologia a sua principal arma, é tão pouco divulgado numa era em que fazemos quase tudo online?" Escusado será dizer que, numa fase de indecisão acerca do tema para a tese, a dúvida imediatamente se dissipou. Eis o meu tema. Cyberbullying. 

Estima-se que em Portugal existem mais telemóveis activos de que habitantes e mais de 90% da população tem acesso à internet. É ou não é uma mistura de ingredientes ideal para o cyberbullying? Tanto é que em 2010 o inspector da divisão de combate ao crime informático da PJ declarou que recebiam, em média, uma queixa por dia. É preocupante.

Numa pesquisa efectuada em Portugal, pela Professora da Universidade do Minho, Ana Almeida, abrangendo um universo de 7.000 alunos, mostrou-se que aproximadamente um em cada cinco alunos (22%), entre os seis e os dezasseis anos, já foi vítima de bullying, na escola.

Encontrei também um estudo recente do professor Pedro Ventura, doutorado pela Universidade de Granada em Ciências da Educação. A investigação para o seu Doutoramento teve como titulo " Incidência e Impacto do Cyberbullying nos alunos dos terceiro ciclo do ensino básico português. As conclusões finais dizem-nos que a média nacional de prevalência do cyberbullying nos alunos do terceiro ciclo do ensino público português em 2010 é de 19,5 %.
Podem ver mais pormenorizadamente o estudo aqui.


Foi apresentado um estudo pelo professor doutor João Amado (que será o meu co-orientador), pela professora doutora Teresa Pessoa (que será a minha orientadora) e a professora doutora Armanda Matos, intitulado "Do Bullying ao Cyberbullying: investigação e intervenção". O estudo foi apresentado numa conferência internacional sobre o desenvolvimento profissional dos formadores de professores e abrangeu, numa primeira fase, 339 alunos do 6.º, 8.º e 11.º anos de escolas das regiões de Lisboa e Coimbra.

Segundo estes primeiros dados, 15,7% dos inquiridos dizem já ter sido vítimas de 'cyberbullying' e 9,4% admitiram ter sido agressores, usando tecnologias de informação e comunicação para agredir os colegas.

Os meios mais utilizados foram a mensagem instantânea, o SMS (através de telemóvel e internet) e as redes sociais (com destaque para o Hi5 e Facebook).

O projeto, envolvendo as universidades de Coimbra (UC) e Lisboa e contando com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia, abrangeu também "uma pequena amostra" de 261 alunos das faculdades de Psicologia das duas instituições.

13% dos estudantes universitários inquiridos dizem que foram vítimas, 1% foram agressores e 88% foram testemunhas de 'cyberbullying' como revelou a docente Teresa Pessoa aos jornalistas, explicando que a maioria dos problemas relatados se situam na adolescência, sobretudo no ensino secundário.

O encontro científico (4th Winter Conference of the Association for Teacher Education in Europe - ATEE), que decorreu em Coimbra, é uma organização conjunta da UC e do "MOFET Institute de Telavive (Israel) reunindo investigadores de 31 países.

Nas palavras do professor João Amado, coordenador do estudo, "é uma das áreas onde é preciso fazer alguma coisa". E basta olhar para os números para nos aperceber-mos disso.


Existe também uma tese de mestrado bastante interessante de Luzia de Oliveira Pinheiro, da Universidade do Minho, onde a autora, numa tentativa de entender a sensação ao praticar o cyberbullying opta por criar um perfil falso online de uma colega. Eis um exerto:

"(...) Eu própria, curiosa com este facto, decidi experimentar para ver os efeitos que a prática de cyberbullying teriam sobre mim. Primeiro experimentei um jogo em que se colocava a cara de alguém num boneco, pontapeando o boneco de seguida e vendo-o estatelar-se aparatosamente no chão. E surpreendi-me ao constatar que, o que aparentemente não era nada de especial (era um boneco com uma cara postiça), afinal proporcionava sensações interessantes: eleva temporariamente a auto-estima. O mesmo se passou na minha segunda experiência com o cyberbullying: criei um perfil no Hi5 sobre alguém, cuja foto não era da própria (tinha sido conseguida por meio de uma pesquisa no Google segundo o parâmetro da idade), coloquei informações falsas e um número de telemóvel. O único que havia de verdadeiro naquele perfil era o número de telemóvel, que pertencia a uma pessoa que eu conhecia (mas que tinha sido alertada e concordado participar na experiência). Os resultados foram um verdadeiro bombardeio ao telemóvel da minha colega, que mais parecia um callcenter em hora de ponta, recebendo mensagens e telefonemas de homens que queriam negociar um encontro com a suposta mulher que aparecia na página do Hi5. Não imaginam o gozo que me deu ler uma mensagem que um desses homens tinha mandado pró Hi5 a dizer: “atendeu-me o teu marido! Porque fazes isto? É por prazer de sair com um desconhecido?”. Eu não sabia desta parte do marido atender, mas foi interessante ver até que ponto realmente isto funciona. E o melhor foi que esta página só esteve 3 dias no Hi5. Agora imaginei se isto tinha sido feito com o objectivo de vingança: a pessoa em causa a esta hora poderia estar a assinar os papéis do divórcio, além de ter a sua reputação manchada e necessitar de mudar de número de telemóvel."


Uma abordagem diferente, não? Aconselho a leitura da tese aqui.


Em Portugal existem sites de ajuda e prevenção como o http://www.portalbullying.com.pt/ e o


Mas a prevenção tem de ir muito mais além. Tem de começar pelas próprias crianças, pelos pais e por toda a comunidade envolvida. É verdade que as crianças conseguem ser muito cruéis. Mas também penso que elas próprias não sabem, por vezes, a dimensão das consequências que podem resultar dessa mesma crueldade. Por vezes é apenas uma forma de se afirmarem. Por vezes pode ser o espelho das suas próprias frustrações. Ao contrário do bullying que é mais directo e físico, o cyberbullying tem uma poderosa arma: o anonimato. O que quer dizer que qualquer pessoa o pode praticar sem se identificar. Desde o mais forte ao mais fraco, todos os podem fazer porque têm todas as ferramentas à mão de semear.


Às vezes também se torna difícil entender a crueldade das crianças. Por muito que alguém queira tentar perceber o porquê, a revolta é maior que a compreensão. Este video, apesar de a vítima não ser uma criança (trata-se de uma pessoa idosa) e de não se tratar de uma caso de cyberbullying, mas sim de bullying, temos um confronto directo com o grau de crueldade a que podem chegar as crianças.



Não consigo ver o vídeo sem sentir uma serie de sentimentos de revolta! A primeira vez que o vi não evitei que me emocionasse. De raiva, de pena, de desilusão por existirem crianças tão cruéis. As palavras são como navalhas que nos trespassam. Agora imaginem a pobre monitora, como se terá sentido nesta situação... "Se eu fosse da tua família suicidava-me porque és tão gorda e feia!", diz uma das crianças. A monitora é viúva e o filho suicidou-se há 10 anos... Entre outras palavras atrozes e tão cruéis que custa acreditar que saíssem de crianças com 11 e 12 anos! E o cúmulo é a criança que filmou ter posto por auto-recriação o vídeo na internat com intitulado "Como fazer a monitora do autocarro chorar". COMO FAZER A MONITORA DO AUTOCARRO CHORAR?!!! Mas ele realmente achou que o vídeo tinha tanta piada que o tinha de partilhar com o resto do mundo??? Que consciência tem esta criança? Uma colega minha dizia-me "isto é o que vai parar à internet, agora imagina aquilo que não vai...". E ela tem toda a razão.


É preciso promover a consciência. É preciso alertar os pais para este fenómeno. Foi neste sentido que no âmbito do Projeto Europeu CyberTraining para Pais, a equipa portuguesa de investigadores João Amado, Armanda Matos e Teresa Pessoa - está realizar 3 cursos de formação de formadores de pais sobre a temática do cyberbullying, a decorrerem nos próximos dias 20, 27 de Junho e 5 de Julho. O projeto CyberTraining para Pais, financiando pela União Europeia, oferece cursos para formadores e pais tendo em conta, de modo especial, a tomada de medidas contra o cyberbullying. Os cursos vão oferecer uma introdução aos conceitos básicos dos novos media e os mais recentes resultados das pesquisas sobre o cyberbullying. Além disso, pretendem dotar os pais com conhecimentos e estratégias sobre como lidar com o cyberbullying, o que inclui apresentações baseadas em evidência teórica, exercícios práticos e discussões reflexivas.

Espalhem a informação pois é urgente a formação neste sentido. Mais informações no site: http://cybertraining4parents.org/home&lang=Pt


Na apresentação que fiz acerca do tema (que postarei mais à frente) disse, e volto a repetir, que por vezes temos de chocar as pessoas para chamar a atenção. O cyberbullying tem histórias reais que chocam e revoltam. Uma em particular, acerca de uma criança, Ryan Halligan, cuja dor e sofrimento acabaram por levar a melhor. O pai encontrou-o enforcado, sim, enforcado ao chegar a casa. O Ryan tinha 13 anos.


                                 



"If We Only Knew, If He Only Told Us". São as palavras sofridas do pai do Ryan no blog que escreveu em memória do filho. Eu não imagino o que será a dor de perder um filho. Eu não imagino a dor de um pai que nada pode fazer para evitar a tragédia. Eu não imagino a dor daquela criança, o desespero numa altura em que está a construir a sua identidade. ESTE É UM ALERTA A TODOS OS PAIS.Tomem atenção aos sinais porque na maioria das vezes as crianças optam por não contar! Para o pai do Ryan foi tarde demais quando descobriu. Não deixe que seja tarde demais para si.

Porque não é uma brincadeira. É Cyberbullying.

Ver aqui o blog do pai do Ryan.


sábado, 10 de março de 2012

Era uma vez...

Nesta aula foram abordados alguns temas, os quais tiveram um breve momento de reflexão. Passo a enunciá-los:

. A experiência do 1º dia de aulas de um professor;
. A  reflexão acerca dos incidentes;
. A importância do bloco de notas e do diário;
. As características principais do portfólio;
. O papel da supervisão;
. O conhecimento tácito;
. A ideia do bom aluno;
. A importância da coerência do professor;
. A partilha de experiências com vista a preparar futuros intervenientes.

Os temas que ocuparam a maioria da aula, aos quais darei mais ênfase, foram a Teoria da Flexibilidade Cognitiva, de Spiro, e a importância das narrativas, histórias e casos.


A teoria da flexibilidade cognitiva enfoca a natureza do aluno em domínios complexos e mal estruturados. Spiro & Jehng (1990, p. 165) afirmam: "Por flexibilidade cognitiva, queremos dizer capacidade para reestruturar o conhecimento de alguém, de muitas maneiras, numa resposta adaptável para mudar radicalmente as exigências situacionais... Esta é uma função do modo pelo qual o conhecimento é representado (por exemplo, dimensões múltiplas, em vez de unicamente conceituais) e dos processos que operam estas representações mentais (por exemplo, processos de montagem de esquemas, em vez de recuperação intacta dos esquemas)."

A teoria é em grande parte interessada na transferência do conhecimento e das habilidades para além das suas situações iniciais de aprendizagem. Por esta razão, uma ênfase é colocada na apresentação das informações de perspectivas diferentes e no uso de muitos estudos de casos que apresentam diversos exemplos. A teoria também afirma que a aprendizagem efectiva é dependente do contexto, portanto a instrução precisa de ser muito específica. Além disso, a teoria acentua a importância do conhecimento construído. Precisa de ser dada aos aprendizes uma oportunidade para que eles desenvolvam as suas próprias representações de informação para que aprendam apropriadamente.

A teoria da flexibilidade cognitiva está fundamentada noutras teorias contrutivistas (por exemplo: Bruner, Ausubel, Piaget) e está relacionada com o trabalho de Salomon em termos da interacção meio e aprendizagem.


Âmbito/Aplicação:

A teoria da flexibilidade cognitiva é especialmente formulada para sustentar o uso da tecnologia interativa (por exemplo: videolaser, hipertexto). As suas aplicações básicas foram baseadas na compreensão literária, história, biologia e medicina.

Exemplo:
Jonassen, Ambruso & Olesen (1992) descrevem uma aplicação da teoria da flexibilidade cognitiva para o modelo de um programa de hipertexto em medicina de transfusão. O programa fornece um determinado número de casos clínicos diferentes, que os alunos precisam diagnosticar e tratar usando várias fontes de informações disponíveis (incluindo conselhos dos especialistas). O ambiente de aprendizagem apresenta persperctivas diferentes de conteúdo, é complexo e mal definido, e enfatiza a construção do conhecimento pelo aprendiz.

Princípios:
1. As actividades de aprendizagem precisam fornecer diferentes representações de conteúdo.
2. Os materiais de instrução precisam de evitar a simplificação do domínio do conteúdo e sustentar o conhecimento dependente do contexto.
3. A instrução precisa de ser baseada em casos e enfatizar a construção do conhecimento, não a transmissão de informação.
4. As fontes de conhecimento devem ser altamente interligadas, em vez de compartimentadas.

Mais acerca desta teoria aqui


Deixo-vos também um vídeo de uma palestra do autor em Vancouver, Canada,  acerca do tema.



No que diz respeito às narrativas, histórias e casos existe um trabalho fenomenal de BRUNO BETTELHEIM intitulado " A Psicanálise dos Contos de Fadas". Ver o trabalho completo aqui








sábado, 3 de março de 2012

O Professor é uma PESSOA


A aula deste dia foi bastante produtiva em termos de assuntos e matérias abordados. Apresentarei de seguida cada um dos temas abordados na aula e farei uma breve reflexão acerca de cada um deles.


Hereditariedade VS Meio

Um tema polémico. Entende-se por hereditariedade um conjunto de potencialidades que o indivíduo possui e que são herdadas no momento da concepção, enquanto por meio/cultura considera-se um conjunto de elementos que nos planos fisiológico, sensorial e sócio-cultural influenciam o desenvolvimento do indivíduo. Penso que só os mais radicais podem afirmar que um ou outro factor têm a responsabilidade total na construção do indivíduo. No entanto, não me parece que seja muito racional tomar uma posição dessas. A divergência maior está no peso que cada um deles tem na construção do ser. Estudos provam que o Q.I. tem uma correlação maior entre gémeos idênticos do que em relação a irmãos ou primos. Mas qualquer diamante em bruto precisa de ter o tratamento adequado. E acho que o papel do meio é fundamental. Qualquer ambiente estimulante promove um melhor desenvolvimento cognitivo. Acho que, neste aspecto, a concordância é geral.

Este tema faz-me lembrar a história do menino selvagem. Aqui se vê a falta do meio solcial na sua forma mais pura e dramaticamente levada ao extremo. Deixo-vos o filme baseado nessa história e aconselho a leitura e a pesquisa dos vários casos registados. É deveras impressionante.




Victor de Aveyron foi uma criança encontrada em França em 1798. Trata-se de um exemplo clássico de que o ser humano é um ser gregário, eminentemente social, um projecto que se realiza na aprendizagem cultural. Sem o contacto com os outros, o ser humano não desenvolve formas de pensar, de sentir e de agir próprias dos seres humanos...Os seres humanos desenvolvem-se em conformidade com os padrões culturais das sociedades em que nascem. O processo de socialização é longo.



Piaget e os Estádios de Desenvolvimento


Piaget foi, sem dúvida, um dos grandes impulsionadores no campo da educação. Insurgiu-se contra o behaviorismo quando afirma que o conhecimento tem origem na interação "sujeito-objecto". A ideia piagetiana da capacidade cognitiva propõe que o conhecimento não nasce no sujeito, nem no objeto, mas origina-se da interação "sujeito-objecto". Longe vai o tempo em que tínhamos de memorizar as aprendizagens ( cantar a tabuada, lembram-se?) e em que o modelo adoptado era o "aprender vendo como se faz". Acho incríveis as histórias contadas pelos meus pais ou por outras gerações acerca do ambiente na sala de aula. É certo que "na minha altura" o modelo ainda era tradicional mas penso que foi nessa altura, ou talvez uns anos depois, que se deu o ponto de viragem ( falo nos finais dos anos 80, princípios dos anos 90). Grandes progressos na educação desde essa altura (infelizmente ao nível da indisciplina também!). Piaget foi, sem dúvida, um dos grandes promotores do progresso neste campo.
Através da minuciosa observação de seus filhos e principalmente de outras crianças, Piaget impulsionou a teoria cognitiva, onde propõe a existência de quatro estágios de desenvolvimento cognitivo no ser humano: o estágio sensório-motor, pré-operacional (pré-operatório), operatório concreto e operatório-formal. Piaget influenciou a educação de maneira profunda. Para ele as crianças só podiam aprender o que estavam preparadas a assimilar. Aos professores, cabia aperfeiçoar o processo de descoberta dos alunos. Piaget foi, sem dúvida, um adepto da reflexão como ferramenta do desenvolvimento cognitivo ao apresentar a criança como sujeito da razão.

A vida e obra de Piaget pode ser consultada aqui.



Erikson e o desenvolvimento afectivo e emocional

Erikson concebe oito estádios de desenvolvimento, cada um deles confrontando o individuo com as suas próprias exigências psicossociais, que prossegue até à terceira idade. O desenvolvimento da personalidade, segundo Erikson, atravessa uma série de crises que têm que ser ultrapassadas e interiorizadas pelo individuo como preparação para o estádio seguinte de desenvolvimento.

Clique aqui para saber mais acerca da teoria psicossocial do desenvolvimento.  



Skinner e a importância da memória na aprendizagem

Quem não conhece a famosa "Caixa de Skinner"? Apesar de ser um claro seguidor das ideias behavioristas, deixou um legado importante na história da educação. Uma das muitas críticas que teve foi devido ao seu pensamento demasiado mecanicista, que não deixa grande espaço à reflexão! Mas não deixa de ser bastante interessante o seu trabalho. Deixo-vos um documentário acerca da sua obra.




Huberman e o ciclo de vida do professor

A ideia defendida por Huberman diz-nos que a vida dos professores é um processo e não uma sucessão de acontecimentos. O processo está, no entanto, repleto de oscilações ou regressões (penso que todos os professores concordam neste ponto!). Para saberem mais acerca dos ciclos de vida apresentados pelo autor, sugiro a leitura da seguinte dissertação, apresentada também nesta mesma aula. (ver aqui)

Com certeza muitos de vós (professores) se identificarão neste processo! 


Feita então uma pequena abordagem aos temas mencionados durante a aula, passo ao texto que ocupou grande parte da aula. Falo do texto intitulado "A EDUCAÇÃO REFLEXIVA DO PROFESSOR – RAZÕES E IMPLICAÇÕES AO NÍVEL DA FORMAÇÃO INICIAL". A sua leitura pode ser feita através do endereço:    

 https://woc.uc.pt/fpce/getFile.do?tipo=2&id=9285 


Seleccionei um excerto do mesmo texto que considero bastante interessante e o qual passo a citar:

"O professor, como outros profissionais mas sobretudo aqueles cuja actividade é fundamentalmente relacional, seja esta com o outro que com ele cresce e vive ou a escrita de outros que os mantêm vivos, será
não só um ser racional mas também emocional ou preocupado em desenvolver a afectividade. Buchmann
(1993) reconhece estes aspectos como assumindo um lugar de destaque em profissões que pressupõem uma capacidade e disponibilidade para ajudar o(s) outro(s) e, assim, requerem o desenvolvimento de virtudes como generosidade e amabilidade, coragem e esperança, sobriedade e afabilidade ao serviço de outros. O professor, então, não será apenas nem fundamentalmente um técnico, que planifica e decide, mas antes um arquitecto do desenvolvimento humano, de si e de outros, um artesão - tecelão de afectos - no sentido, sobretudo, da minúcia na construção de laços e sentidos de si, do outro e da relação de si com outros."



Ora bem, eu penso, sinceramente, que muitas vezes as pessoas esquecem-se que o professor é mesmo isso: UMA PESSOA. Como afirma Abraham (1982, p.36), o “sucesso de um professor depende da natureza das suas relações” podendo o sucesso ou o insucesso destas relações construídas no trabalho ser factor para se manter ou abandonar a profissão. Ada Abaham realizou em Israel, nos anos 70 , um estudo junto de professores e de alunos no sentido de procurar compreender as auto-imagens dos professores e as
imagens que os alunos detinham do professor. Penso que faz todo o sentido falar acerca deste estudo que revelou resultados bastante interessantes.

A autora inquiriu 102 professores do ensino primário vindos de todas as regiões do país e que leccionavam as oito classes a que correspondia o ensino primário. Para proceder ao estudo utilizou um conjunto de 60 fichas, uma folha de resposta e um questionário pessoal. Os professores apontaram como os traços mais relevantes da imagem de um professor o talento de estimular os alunos para a reflexão e compreensão e a capacidade de suscitar a confiança dos alunos na sua capacidade de aprender. Para os inquiridos um bom professor aparece, ainda, como alguém que ajuda os alunos a resolver os seus problemas pessoais, é muito exigente consigo próprio e acredita na sua capacidade pedagógica. A imagem de um bom professor passa, também, pelo facto de este ser capaz de reconhecer os seus erros, de ser amado pelos alunos, de se dar e aceitar os alunos tal como eles são; sendo paciente e não os criticando.

No que respeita à sala de aula, os professores dizem-se conscientes de que detêm autoridade, não esmorecem perante o insucesso, da mesma forma que não temem os alunos “mesmo que estes sejam ‘insuportáveis’. De acordo com a autora as imagens que os professores têm de si como profissionais é semelhante à que têm de si como pessoas, o que significa que os professores têm de si uma imagem positiva ao extremo até porque os traços “considerados positivos pela sociedade sãos os traços positivos que lhes correspondem” e qualquer traço negativo foi afastado pelos professores que participaram no estudo, como se não lhes dissessem respeito. Abraham concluiu que os professores que constituíam a sua amostra tinham uma imagem do professor “claramente idealizada”.


Na sequência do estudo que realizou junto dos professores sobre a sua auto imagem Abraham aplicou um questionário idêntico a alunos para tentar perceber qual a imagem que eles possuem dos professores.

O seu estudo repousa assim sobre os resultados obtidos através de um questionário com 60 itens distribuído a 110 alunos entre os 13 e 14 anos de cinco escolas. Os alunos inquiridos por Abraham consideraram que o bom professor é alguém que se preocupa com a capacidade de os alunos compreenderem as matérias leccionadas, pelo que é paciente e procura levá-los a reflectir sobre a matéria em apreço, a colocar as
suas dúvidas e a participar activamente nas aulas. O bom professor aparece, ainda, como alguém que se preocupa com a disciplina, mas que é respeitado e amado pelos seus alunos até porque é capaz de dar
muito de si próprio e procura compreender os problemas que os alunos têm. Utiliza o elogio e o incentivo no sentido de encorajar os alunos a terem confiança em si próprios e respeita-os enquanto pessoas.


Fazendo o estudo comparado das respostas de professores e alunos, com recurso ao teste de Mann-Whitney, a autora pôde chegar a várias conclusões de que reteremos as principais:

1ª- A imagem dos alunos é diferente da dos professores na maioria dos aspectos: em geral os alunos têm uma imagem menos favorável dos professores do que estes têm de si próprios; designadamente, consideram que os professores não os estimulam suficientemente a realizar uma reflexão pessoal, não são tão pacientes como pensam que são e não se dão tanto aos alunos como afirmam dar.

2ª – Os alunos gostam menos dos professores do que estes imaginam e não partilham com eles a opinião de que os professores lhes despertem confiança em si próprios e lhes facilitem assumir iniciativas;

3º - Contrariamente à perspectiva dos professores, que se identificaram como seres humanos, os alunos distinguem a pessoa da função que desempenha;

4º - Não estão tão abertos à compreensão dos problemas dos alunos, são muito sensíveis no que respeita à sua imagem dentro da sala de aula e à autoridade que exercem.

5º Mas professores e alunos partilham a ideia de que os professores
- são pródigos a elogiar os alunos e a tratá-los como adultos, independentemente do sucesso escolar dos alunos e que não são influenciáveis pelas opiniões dos alunos, expressam livremente os seus sentimentos e não se deixam constranger pelos inspectores.

Estas opiniões não variaram com o género dos respondentes.

Pode, finalmente, concluir-se que os alunos têm uma visão menos estereotipada dos professores e que as diferenças de opinião são muito profundas.


 

Para finalizar, deixo-vos um filme, lindíssimo, que está no meu TOP 10 de melhores filmes e que ilustra bem o quanto o professor pode ir muito mais além disso. Aconselho vivamente.




Les choristes ( pt: Os Coristas) é um filme francês de 2004, do gênero drama, dirigido por Christophe Barratier.

Mais sobre o filme aqui.



Bibliografia recomendada:


HUBERMAN, M. (1992). O Ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, A. (org.). Vidas de professores. 2. ed. Portugal: Porto Editora, p. 31-61.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Bruma da Manhã


“Ah se não fosse a bruma da manhã
nem a velhinha janela onde me vou
debruçar para ouvir a voz das coisas
eu não era o que sou.”

Excertos de “Canção duma Sombra”, Teixeira de
Pascoaes (1907) In Breyner (1998)



A aula girou em torno deste poema. Mas, neste caso, não se trata de só poesia e de um belíssimo exemplo de Teixeira de Pascoaes. Trata-se, sobretudo, de olharmos para a reflexão como algo que nos constrói enquanto indivíduos. Decerto todos concordam que a vida é feita de experiências. Mas o que serviriam essas experiências senão reflectíssemos sobre elas? Uma determinada vivência pode ser boa, o que nos faz intuitamente querer passar novamente por ela, desenvolvê-la, torná-la ainda melhor! Uma má vivência faz-nos queres aprender a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que não volte a acontecer. Ou aprender a tornarmo-nos mais fortes caso volte a acontecer... Para tal, é preciso REFLECTIR. É preciso APRENDER. É preciso INTERIORIZAR. Ora tudo isto se aplica a inúmeras situações que, com certeza, já todos passámos no nosso percurso na terra. Seja no campo do amor, da vida profissional, num desvario momentâneo com consequências boas... ou más. 

Mas o que realmente nos interessa, é saber como pode a reflexão no campo da educação ser uma mais-valia para o professor. Ora bem, penso que seja um pouco óbvio. Ora dizendo isto por outras palavras, mais poéticas, o professor é um tecelão do saber, é um operário do ensino, é um arquitecto do desenvolvimento humano. A reflexão, ou a "bruma da manhã" é indispensável a alguém que constrói o seu conhecimento em virtude, essencialmente, do conhecimento de terceiros. Para tal, não basta ter acesso à experiência: é preciso pensar sobre ela, procurar outras perspectivas diferentes (por exemplo, uma determinada metodologia de ensino). É preciso "ouvir a voz das coisas", ou seja, tomar consciência e VER para lá da experiência, quais as suas consequências, as suas virtudes, os pontos fracos, os pontos fortes. E em vez da "velhinha janela" procurar outras janelas, de outros formatos, de outros materiais, mais altas, mais baixas, redondas ou quadradas! 

E por falar em experiências, foi proposto pela professora, no âmbito deste tema, o relato de um incidente crítico que tenhamos passado enquanto alunos e enquanto professores. A própria professora partilhou uma experiência, a qual achei deveras interessante e passo a transcrevê-la:



" (...) Nunca mais nos iremos esquecer de um desenho da Nossa Senhora que fizemos, com todo o carinho e convicção, numa prova da 3ª ou 4ª classe, ainda hoje o consigo desenhar, mas que não foi aceito porque “A Nossa Senhora não era assim!”. Segundo a professora, a Nossa Senhora não tinha sardas, não tinha puxinhos, não tinha umas pestanas assim tão grandes, não tinha bochechas e não tinha uma boca assim tão bonita! Tivemos que fazer outra Nossa Senhora, aquela, a da professora, e ainda hoje não percebemos porque é que não gostaram ou aceitaram a nossa Nossa Senhora! Se a professora, naquela altura, nos tivesse escutado, ouvido a nossa voz, se tivesse aceitado como válido o conhecimento que mostramos acerca da imagem da Nossa Senhora, não teria sido, com certeza, necessário ter percorrido tantos caminhos para que hoje pudéssemos afirmar com confiança, a outros, que a Nossa Senhora poderia ser assim, também!"
(ver texto completo)




Ora bem, mesmo pondo de lado o meu cepticismo em relação à religião católica, especialmente em relação à constituição física dos seus personagens, a atitude da professora não foi apropriada (na minha singela opinião). Porquê "impingir" a uma criança uma imagem pré-determinada de alguém? Porque é que a nossa senhora não podia ter pestanas grandes ou puxinhos? (o meu sarcasmo de imediato pergunta: "mas ela conheceu-a pessoalmente, foi?") Porquê bloquear de imediato a criatividade e impor aquilo que é "socialmente aceitável" sem ouvir a perspectiva da criança? O meu conselho na altura teria sido para reflectir relativamente a isto! 

Aproveito então para partilhar a minha experiência no que diz respeito a episódios críticos na minha vida enquanto aluna e enquanto professora.

Estava eu no 7º ou 8º ano e, não me sentindo preparada para um teste resolvi fazer o que, de resto, toda a gente na minha turma fazia: copiar. Nunca o tinha feito até porque, até hoje, é visível a minha falta de jeito para tal proeza. E era tão visível que acabei mesmo por ser apanhada em flagrante. Escusado será dizer que o trauma me persegue até hoje. A professora deixou-me continuar o teste porque, como "apanhou" as cábulas logo no início ainda não tinha tido oportunidade de copiar nada! Para verem como a minha falta de aptidão nesta matéria é elevada. Sinceramente não me recordo se consegui ou não ter positiva nos teste mas o importante é o que se passa depois. Num segundo teste, para me redimir, estudei, ou melhor, decorei tudo! Passei horas a decorar os textos de história, sobre australopitecos e outros tantos antepassados. Cheguei ao teste e "vomitei" tudo para a folha de teste saindo da sala muito orgulhosa de mim própria sabendo que ia ter, de certeza, boa nota. Não tive. Aliás, tive a nota mínima pois segundo a professora "claramente tinha copiado" mas desta vez com sucesso. Mas não havendo provas, optou por me dar a nota mínima. Fiquei destroçada! Tantas horas a decorar textos! Tentei defender-me, mas em vão. Não acreditou em mim. Pensei em falar com os meus pais mas imediatamente me lembrei do episódio anterior que, certamente, a professora iria mencionar se eles lhe fossem pedir satisfações. Agora eu pergunto: será que foi justo? Tomando um pouco a reticência da professora devido ao facto de ter tentado copiar da primeira vez, não seria mais sensato deixar-me fazer o teste outra vez, ao pé dela para ver que eu não tinha copiado? Ou então não seria uma boa oportunidade para me alertar para o facto de que decorar não é o mesmo que compreender a matéria? O que é certo é que em nada foi benéfico. Lembro-me bem da frustração, da desmotivação e da revolta que se apoderaram de mim. 

No que diz respeito a episódios críticos enquanto professora, apenas me posso basear na minha experiência de estágio porque, tal como muitos recém-licenciados em 1º ciclo, ainda não tive oportunidade de exercer (nem sei se alguma vez terei). Este foi um episódio que se passou no meu último ano de estágio e que me deixou bastante perturbada. Aliás, é a primeira vez que falo dele desde que aconteceu. Ora bem, estava eu a dar aulas a uma turma do 2º ano e fiquei com a tarefa de introduzir o conceito do "Ç" e do "C". Fiz cartazes, recortei letras para formarem palavras, enfim, todo um rodopio de materiais que já eram habituais. A aula correu muito bem, os alunos gostaram e mostraram-se interessados. No final, como era hábito, a professora orientadora deu-me a sua opinião, os pontos fracos e os pontos fortes da minha aula. A uma determinada altura disse" Outra observação que lhe queria fazer é que a cedilha do C estava ao contrário em todas as palavras." Ou seja, em vez de inclinada para a esquerda, estava inclinada para a direita. Fiquei perplexa! A questão é que EU SABIA ISSO! Como é que eu errei? De volta a casa vasculhei todos os meus apontamentos e lá estava ele, em todas as frases, em todas as palavras a maldita cedilha ao contrário! Como é que em tantos anos nunca me apercebi disso? Como é que eu na teoria sabia o correcto e na prática, inconscientemente, fazia errado? E as crianças? Teriam elas "absorvido" o meu erro? Foi, sem dúvida, um episódio que me fez reflectir bastante. Tanto pelo facto de ser caricato, como pelo facto de me ter abalado profundamente. Mas uma coisa é certa, nunca mais a partir daí voltei a escrever a cedilha ao contrário. No início a caneta teimava em ir para a direita mas forcei-a sempre a ir para a esquerda. E agora posso dizer que a cedilha está sempre do lado correcto. E enfim, costuma-se dizer que "há males que vêm por bem" e este foi um deles porque se não tivesse acontecido, talvez até hoje continuasse inconscientemente a errar. 




Para terminar, deixo-vos um vídeo que foi referido nesta mesma aula e penso que transmite um pouco do que foi dito: o que as crianças vêem, as crianças fazem.







Bibliografia recomendada:


Mendes, Teresa PESSOA (2002). Em torno da Reflexão – (im)pressões e (ex)pressões em educação. Revista Portuguesa de Pedagogia, Ano 36, nº1,2 e 3, 375-386. (online aqui)
Mendes, Mª Teresa R. PESSOA (2004). Aprender a Pensar como Professor pelo estudo e escrita de casos.Psychologica, 477-491. (online aqui)